quarta-feira, 10 de junho de 2009

As Flores de Frederic - Parte I

Não havia nada de novo naquela manhã cinzenta, e era de um tom infernal o sorriso que Gilbert pintava.

- Frederic, queime as flores! Não deixe que este cheiro doce e juvenil tome as narinas de minha amada. E faça isso rápido, ela despertará assim que o sol transpassar a janela de seu quarto!

E seguindo as ordens do patrão, ele sai a caça de flores ao redor da casa. Num balde sujo, ele deposita as rosas encontradas nas mesas do corredor e hall de entrada. "Tão belas são estas rosas, porque Gilbert não as quer perto da Srt. Jane?". E neste instante, enquanto Frederic se deliciava com o perfume de um belo botão de rosa, os pássaros passaram a cantar mais alto no topo das verdes arvores, o dia cinza passou a ser azul e raios de sol eram vistos pelos olhos, agora delicados, de Frederic! Sentia a magia das flores quando lembrou do que fora designado a fazer, e com muito pesar jogou ao fundo do balde aquela linda flor. Ainda encontrara Margaridas, Rosas amarelas e azuis, Orquídeas e Lírios. Todas foram colocadas no fundo daquele velho balde, e um perfume muito peculiar surgia desta mistura.
Frederic passava com seu balde carregado de flores pela frente do quarto de Srt. Jane, quando ela acordou de um susto repentino. Não fora o sol que a despertara e sim o belo perfume que exalava daquele balde. Sentindo suas narinas se abrirem para aquele cheiro, ela levantou da cama, e ainda usando seu traje de sono, procurou a origem de tal cheiro. Frederic descia as escadas que davam para o jardim quando Srt. Jane exclamou seu nome.

- Frederic! Este odor, de onde vem? Jamais senti algo assim na minha vida! Isto me remete as inúmeras páginas dos livros que passei a vida toda lendo. Por favor, me diga a origem desta essência.

A garota que nunca havia sentido um perfume, implorava para saber a origem daquele que a despertara não só de uma noite de sono, mas de uma vida inteira ilusória. Porém, Frederic que temia demais o nefasto Sr. Gilbert saiu correndo para queimar logo as flores e afastar Srt. Jane do tão perigoso perfume. Frederic se escondeu na casa de ferramentas com o balde cheio de flores e naquele pequeno canto ele chorava, por não poder mostrar a Srt. Jane aquele perfume tão mágico. Enquanto isso, Srt. Jane, que não descera para tomar café, lia um de seus livros preferidos...

"Daí por diante, ela se conservou em seu pequeno quarto no trigésimo sétimo andar do edifício de apartamentos de Bernard, deitada na cama, com o rádio e a televisão permanentemente ligados, a torneira de patchuli a gotejar o perfume, e os comprimidos de soma ao alcance da mão - ali ficou ela; e, no entanto, não era ali que ela estava; achava-se sempre em outra parte, infinitamente longe, fora da realidade, em algum outro mundo onde a música do rádio era um labirinto de cores sonoras, um labirinto deslizante, palpitante, que levava (por que voltas maravilhosamente inevitáveis!) a um centro brilhante de convicção absoluta; onde as imagens dançantes do aparelho de televisão eram os atores de algum filme sensível e cantado, indescritivelmente delicioso; onde o patchuli, caindo gota a gota, era mais do que um perfume - era o sol, um milhão de saxofones, Pope fazendo amor, mas muito mais intensamente, muitíssimo mais, sem cessar." *

Gilbert nesse instante, rumava para o centro da cidade e Frederic ao perceber sua ausencia, pegou uma rosa muito perfumada e saiu correndo para entregar a doce Srt. Jane. Subiu com pressa as escadas e ao entrar no quarto foi logo anunciando:

...





(em breve o desfecho desta história)