terça-feira, 21 de julho de 2009

Amor Leproso

Começou a suar,
Beijou-lhe amarga a face,
E morreu instantaneamente

Da tuberculose à cirrose,
Quando o peito aperta
O sangue apenas corre

Um caso amoroso,
Do tipo leproso
Por um homem bondoso

Neste fim de vida,
Amarga e doída,
Adormece sobre a mão da menina

terça-feira, 7 de julho de 2009

As Flores de Frederic - Parte II

Gilbert nesse instante, rumava para o centro da cidade e Frederic ao perceber sua ausencia, pegou uma rosa muito perfumada e saiu correndo para entregar a doce Srt. Jane. Subiu com pressa as escadas e ao entrar no quarto foi logo anunciando:

-Srt. Jane, minha querida. Perguntastes para mim de onde provia aquele delicioso aroma, pois bem.. este aroma vem das flores que o Sr. Gilbert mandou eu queimar, estou indo fazer este trabalho agora antes que ele retorne. Mas aqui, está uma rosa. Examinei todas, uma a uma, e esta é a que possui o melhor perfume. Tome cuidado para que Gilbert não saiba disto. E antes que Srt. Jane pudesse agradecer, desceu correndo, do mesmo modo que subiu, as escadas.
Então, a exemplo de sua musa inspiradora, Srt. Jane ficou trancada em seu quarto sentindo o perfume tão desejado da Rosa que Frederic havia lhe dado. Sentia toda magia das palavras em um aroma só. Tão doce que era dificil entender que provia de uma simples flor. 'Flor', tão estranha esta palavra para Srt. Jane. No meio desta cena toda, o sol penetrava o quarto da jovem e enchia de vida os olhos e o coração. Ela pensava em Frederic, o seu salvador que apresentara a coisa mais maravilhosa do mundo. E neste mundo colorido, Srt. Jane adormeceu. Segurava a rosa contra o peito e ao seu lado o livro aberto na página de número 103. Enquanto dormia, Gilbert chegara em casa. Foi direto ao quarto de Srt. Jane, como se soubesse que algo de muito errado tivesse acontecido. Ao chegar perto, o cheiro ja tocara suas narinas, ele sabia do que se tratava e na sua mente, tudo ja estava resolvido.

-Levante desta cama, criatura infiel. Traiste a mim, quando aceitara esta.. esta flor! Sabes o mal que isto pode lhe causar? Pois bem, eu que sou teu dono sei! E quero lhe poupar dos sofrimentos, lhe dou sempre tudo que quiser. Você mora nesta casa onde tem tudo, e não precisa fazer absolutamente nada e ainda tens a ousadia de me desobedecer. Pois saiba que este empregadinho logo vai ter seu fim. E que nunca mais você toque no assunto. Escute, que isto nunca mais se repita! E para o seu bem, nunca mais entraram flores nesta casa! NUNCA MAIS!

Srt. Jane foi tentar dizer alguma palavra, quando Gilbert tomou a rosa de suas mãos e saiu mais do que rápido para onde Frederic se encontrava.
Ao ver Frederic com o balde de flores intacto, Gilbert foi tomado de um ódio súbito.. pegou ele pelo pescoço, e enquanto as lagrimas rolavam do rosto de Frederic, Gilbert proferiu estas palavras:

-Para aprenderes a não contrariar minhas decisões. Isto aqui é pra mostrar quem manda dentro desta casa, seu infiel. Que vá para o inferno, que é o seu lugar! Estás chorando de medo é? Saibas que não conseguistes contaminar minha esposa com este seu ideal.. isto não vai existir aqui! E a Jane, eu vou cuidar muito bem dela.. para ela nunca desconfiar disto!

E com um golpe mortal, cravou um punhal no peito do empregado mais fiel que já tivera, e o unico que mostrara algo de bom para Srt. Jane. O sangue descia pelo corpo e chegava até a terra. A vida se extinguia do corpo de Frederic, e ele caiu sobre o balde de flores. Morreu sentindo o perfume. Morreu.
O céu azul que brilhava naquele dia, se fez cinza e nuvens tão negras quanto o coração de Gilbert trouxeram uma chuva fortíssima. Sob este clima, Gilbert fazia um buraco no fundo do quintal. Sem saber, Srt. Jane a observava da janela do banheiro, aos prantos a garota entendera o que estava acontecendo. Então, ao jogar o corpo de Frederic para dentro do buraco, Gilbert jogou também as flores.. e ali, foi o fim de todo o perfume.
Passaram-se exatamente um ano, e não se falou um só dia naquele assunto. Gilbert seguiu sua vida normal, sempre muito rigido com Srt. Jane. Até que, numa bela manhã Srt. Jane despertara de seu sono, do mesmo modo que despertara um ano atrás. Assutada resolveu abrir a janela para tomar um ar. Eis uma surpresa, o céu estava lindo como nunca! E no jardim sem flores, algo crescera naquela noite. Era uma roseira, exatamente onde Frederic e as flores tinham sido enterrados. O perfume era o mesmo também, e ja tomava conta da casa inteira. Então, Srt. Jane ouviu passos apressados no corredor, e correu para a cama, fingiu estar dormindo quando Gilbert entrou assutado. Deitada ela ouviu ele suspirar:

-Ufa.. ela ainda esta a dormir...

E mais do que depressa, Gilbert correu para o jardim afim de qubrar a roseira. Foi tomado de raiva. Tamanha era a raiva que nem se importou com os espinhos e foi logo arrancando a roseira dali. Sem perceber, um espinho cravou em sua mão e uma dor tomou conta do seu corpo. Um tremendo calor lhe subiu das pernas que foram ficando duras, Gilbert caiu sobre a roseira, sentindo seu corpo envenenado expulsar o resto de vida que lhe restava. E ali, frente a seu inimigo, Gilbert morrera tentando acabar com o perfume.
Srt. Jane desceu lentamente as escadas, fechou os olhos e deixou levar-se pelo perfume. Afastou o corpo podre de Gilbert, que estava se deteriorando a esta altura, e parou diante da roseira que resistira aos esforços daquele monstro. Nos outros dias que se seguiram, Srt. Jane cultivou com muito amor aquela roseira e as flores mais lindas brotaram dela. O céu foi ficando cada dia mais claro, até que não existiram mais noites na vida de Jane. E apenas alguns anos depois, o seu jardim era o mais florido, e o perfume ja contaminara toda a cidade. De longe vinham os enfermos para sentir um pouco do perfume, e mesmo com tantas espécies de flores, tantos odores, Srt Jane não esquecera da sua roseira mais que especial, todos os dias a regava cuidadosamente e jurou que até o fim de seus dias aquela seria sua unica razão de viver; um agradecimento a Frederic, seu salvador.







* Parte extraída do livro ‘Admirável Mundo Novo’ Pág. 103 – Aldous Huxley




Dedicado a,
Ana Cláudia.