O gênio se sente fraco toda noite, vocês não sabem. Estive em dois grandes eventos neste mês e brindei champanhe com companheiros antigos dos tempos de medicina e professores de universidades tão importantes quanto o governo americano. E deste encontro não tirei nada, absolutamente nada. Homens de terno, suando enquanto a noite avançava e as piadas sem graça (sempre as mesmas) para cima das belas mulheres que circulam por ali a procura de alguma transa. Uma certa vez tentei a sorte com uma dessas; não consegui. O destino sempre me sorri as avessas, com prêmios, projetos perfeitos, reconhecimento, nobreza, status; mas nunca com diversão, felicidade e companheirismo. Esqueço disso dentro do laboratório, com o nariz entupido de um pó branco e milagroso, experimentando milhares de combinações, escrevendo, analisando, tomando uma ou outra dose de whiskey, fumando cigarros, charutos, e depois no fim da noite, quando o sono não vem, eu dirijo sem direção e paro no caís de encontro com a solidão. Adormeço e acordo antes de alguém me ver, me retiro para casa e tento esquecer dos excessos, mas excesso de solidão não é tão fácil de esquecer, quem dirá esconder. Telefone me dá medo durante a madrugada, tenho ataques de pânico e quem sabe esteja com traços de esquizofrenia. Mas sou um gênio, preciso me manter firme, agradar as pessoas e ter uma fala rebuscada... mas acho que não consigo mais desenvolver um projeto tão bom quanto aqueles de um ou dois anos atrás. Verdade é que vem caindo meu nível, gradativamente. Faz cinco anos no mínimo que não me sinto realizado com um trabalho meu.
O herói por trás das glórias é tão silencioso quanto uma leve pluma caindo no oceano a noite; é de uma tristeza comum, viciado em um vicio comum e atormentado por fantasmas tão grandes quanto sua glória. Lembre-se : “quanto maior sua glória, maior seu fantasma”. Escrevi isto no teto sobre minha cama...